Mulheres — não engordem, não envelheçam, não se divirtam, não ousem usar biquíni.

Todos os verões, pontualmente, os meios de comunicação social ficam repletos de imagens de mulheres em férias, e cada passo delas é analisado minuciosamente. Ela usa biquíni? Ela é muito velha, muito gorda ou se sente muito confortável com o seu corpo? E já se ouvem comentários indesejados: «Por que ela usa biquíni nessa idade?» ou «Ela não deveria usar um maiô de uma peça só?» Infelizmente, esse ritual se tornou uma característica da temporada. Dos paparazzi às manchetes sarcásticas, essa vergonha incessante reforça padrões irrealistas. Mas por que isso é normal e o que isso diz sobre a relação da sociedade com o corpo feminino?

O espetáculo anual da vergonha do corpo

Vamos chamar isso pelo que é: espetáculo. Nos meses de verão, alguns meios de comunicação parecem ter prazer em exibir imagens de mulheres famosas em fatos de banho. Não são apenas fotografias, são armas. Os paparazzi capturam as mulheres em momentos vulneráveis — quando elas ajeitam a toalha, se esticam ou se inclinam — e muitas vezes tiram fotos de ângulos desfavoráveis para enfatizar as imperfeições. Se não há uma foto perfeita, a lente certa e um pouco de edição podem criar o efeito desejado.

Mas por quê? Por que é que essas imagens recebem tanta atenção e por que é que existe tanto interesse público em ver mulheres, especialmente aquelas que ousam envelhecer ou pesar mais do que o tamanho 38, serem condenadas por simplesmente viverem as suas vidas?

Por que é que a escolha dos fatos de banho das mulheres é assunto de todos

Os corpos das mulheres são considerados, há muito tempo, propriedade pública. Quando uma mulher famosa aparece de biquíni, o seu corpo é minuciosamente analisado aos olhos do mundo inteiro. Não se trata de moda, mas sim de uma mensagem. Existe uma expectativa persistente de que as mulheres devem corresponder a um determinado tipo de corpo e envelhecer com graciosidade — se é que envelhecem. Desviar-se dessas regras tácitas significa expor-se ao ridículo e à crítica.

A pressão de «estar pronta para o biquíni»

Todos os verões ouvimos falar sobre alcançar essa elusiva «silhueta de biquíni». A mensagem é clara: apenas certos corpos são dignos de usar biquíni e, se o seu corpo não se encaixa nesse padrão, você deve se esconder. Essa obsessão pela «silhueta para o biquíni» deu origem a toda uma indústria de dietas da moda, treinos intensivos e produtos de saúde destinados exclusivamente às mulheres. A questão é que as mulheres têm de trabalhar constantemente para corresponder aos padrões físicos da sociedade, caso contrário, podem ser consideradas «indignas» de participar na diversão do verão.

Idade e padrões duplos em relação ao biquíni

Embora a seleção anual de fotos às vezes inclua homens, o foco geralmente é nas mulheres. Homens famosos envelhecidos em calções raramente são alvo de tanta ira. Os homens famosos podem ficar grisalhos, ganhar peso ou mostrar sinais de envelhecimento, e isso é geralmente visto como normal, até mesmo como motivo de celebração. Mas se uma mulher ousa envelhecer, especialmente em biquíni, a narrativa muda. A mídia britânica tem uma maneira estranha de mostrar essas mulheres sob uma máscara de admiração, enquanto sutilmente (ou nem tão sutilmente) leva os leitores a zombarem delas.

O papel dos paparazzi: transformar momentos inocentes em humilhação pública

O papel dos paparazzi nesse estranho ritual não pode ser subestimado. As suas longas lentes não procuram glamour; procuram momentos comuns que tornam estas celebridades humanas, capturando-as simplesmente no processo de existir. Isto cria um espetáculo ao qual as pessoas sentem a necessidade de reagir, o que gera discussões nas redes sociais, nos tablóides e fora deles.

Fotografar mulheres em momentos vulneráveis

Essas fotos são criadas especificamente para serem desfavoráveis. Uma mulher que se inclina para passar protetor solar ou que se senta sem se preocupar com a postura torna-se alvo de ridicularização. A sociedade transformou as atividades na praia numa oportunidade para humilhar, como se uma mulher a relaxar nas férias tivesse de alguma forma convidado a crítica mundial, simplesmente por não estar «preparada para a câmara».

A humilhação pública como entretenimento

O lado preocupante deste espetáculo anual de vergonha é que ele parece entreter as pessoas. Há uma crueldade oculta à qual a sociedade se habituou. Este ciclo de «choque, vergonha e partilha» tornou aceitável tratar os corpos das mulheres como material de entretenimento, avaliando-os impiedosamente e ignorando as consequências para as pessoas reais envolvidas nessas situações.

O impacto psicológico da vergonha do corpo

Estudos demonstraram que a exposição a mensagens de vergonha do corpo pode afetar significativamente a saúde mental, reduzindo a autoestima e causando insatisfação com o próprio corpo. Isso afeta não apenas as celebridades, mas todas as mulheres. Quando a mídia estabelece o padrão de que apenas um pequeno grupo de corpos pode usar biquíni com confiança, isso reforça uma mensagem destrutiva. Muitas mulheres internalizam essas expectativas irrealistas, o que leva a um sentimento de inferioridade e autoconsciência, mesmo em situações privadas.

A história do controlo dos corpos na mídia


A vergonha do corpo não é um fenómeno novo, mas a sua evolução tornou-se mais sofisticada. Da cultura sensacionalista às publicações virais nas redes sociais de hoje, a ideia de que uma mulher deve ter uma determinada aparência para merecer respeito continua a ser perturbadoramente atual. Nas últimas décadas, os culpados eram as revistas, que usavam retoques e Photoshop para apresentar um ideal inatingível. Hoje, são fotos «casuais» de praia que transmitem as mesmas mensagens prejudiciais. Trocaram uma forma de beleza irrealista por outra, e os meios de comunicação tradicionais e as plataformas sociais servem como caçadores desses estereótipos.

Recuperar o biquíni: o direito das mulheres de serem elas mesmas

A reação a essas narrativas prejudiciais está a crescer, à medida que mais mulheres rejeitam a ideia de que devem esconder os seus corpos. Os movimentos em direção à positividade corporal e à inclusão estão a ajudar a mudar a perceção. As mulheres estão a começar a aceitar os seus corpos, independentemente do tamanho ou da idade, e a ocupar o seu lugar na praia sem pedir desculpas.

Um apelo para uma cultura mediática mais inclusiva

Para que isso mude em uma escala mais ampla, precisamos mudar a nossa percepção e discussão sobre os corpos. A mídia e os paparazzi devem assumir a responsabilidade pela disseminação de estereótipos prejudiciais. Em vez de nos concentrarmos na vergonha do corpo, poderíamos nos concentrar em histórias que inspiram e celebram a diversidade. A narrativa não deve ser sobre como alguém fica de biquíni, mas sobre as memórias que cria, o prazer que obtém e como vive a sua vida.

Conclusão: é hora de acabar com a temporada da vergonha

O espetáculo anual de verão da vergonha do corpo não é apenas uma moda dos tablóides; é um reflexo da sociedade, que continua a impor expectativas rígidas em relação ao corpo das mulheres. A ironia é que as mulheres em férias são frequentemente as que mais se assemelham a nós. Não estão na passadeira vermelha; estão a aproveitar o momento de descanso, tal como todas as outras pessoas. Está na hora de as deixarmos ser. Em vez de alimentarmos o fogo da condenação pública, precisamos de reconhecer que a beleza é diversa, que a idade não importa e que todos os corpos merecem ser celebrados. Portanto, neste verão, vamos mudar a narrativa: toda mulher merece o direito de usar o que quiser e aproveitar o sol, livre de olhares condenatórios.