Mudei-me para a casa do meu amigo e o cão dele recusou-se a deixar-me entrar na cave — até que, finalmente, arrombei a porta…

Quando me mudei para a casa do Alex, tudo parecia perfeito.

A casa era encantadora — um antigo edifício vitoriano com pisos que rangiam e janelas altas que enchiam cada divisão com uma luz dourada.

Parecia o início de um conto de fadas, especialmente porque o Alex, o meu homem ideal, estava ao meu lado.

E depois havia também o Rufus, o enorme pastor alemão do Alex.

O Rufus era, na maioria das vezes, adorável, seguia-me como uma sombra e deitava-se aos meus pés enquanto eu trabalhava.

Achei que nos tínhamos entendido imediatamente.

Até que tentei aproximar-me da porta da cave.

A primeira vez que isso aconteceu, eu estava a desempacotar uma caixa no corredor.

A porta da cave estava entreaberta e pensei que poderia colocar lá alguns livros antigos.

Mas assim que me aproximei, Rufus se lançou contra mim e rosnou baixinho.

Os seus dentes estavam à mostra e as orelhas pressionadas de uma forma que eu nunca tinha visto antes.

«Oh, Rufus», disse eu, dando um passo para trás.

«O que se passa?»

Ele não se mexeu do lugar até eu dar mais alguns passos para trás.

Então, como se nada tivesse acontecido, ele abanou o rabo e seguiu em frente, como se nada tivesse acontecido.

Achei que fosse um acidente, mas aconteceu novamente — e novamente.

Sempre que tentava aproximar-me da cave, o Rufus tornava-se um cão completamente diferente.

Ele rosnava, latia e até me empurrava com o seu corpo enorme.

Quando contei isso ao Alex, ele riu.

«Ah, o Rufus não gosta da cave», disse ele despreocupadamente.

«Ele sempre se comportou assim.

Provavelmente, há um cheiro estranho lá.

«Mas o que há lá em baixo?», perguntei.

«Nada de especial», respondeu Alex.

«Algumas coisas velhas para guardar.

Não vou lá há vários anos.»

Isso pareceu-me estranho.

Quem mora numa casa e nunca desce à sua própria cave?

Mas Alex sempre foi calmo e um pouco distraído com essas coisas.

Eu disse a mim mesma que não era um grande problema.

No entanto, o comportamento de Rufus não me deixava em paz.

Os cães têm uma intuição, não é?

Talvez houvesse realmente algo estranho no porão.

Mofo? Ratos? Vazamento de gás?

Decidi verificar enquanto Alex estava no trabalho.

Na manhã seguinte, esperei Alex sair para o escritório e peguei a chave reserva do porão.

Assim que Rufus me viu indo em direção à porta, começou a choramingar.

Ele bloqueou o meu caminho novamente, a ladrar e a arranhar as minhas pernas.

Eu não queria irritá-lo, mas a minha curiosidade tornou-se uma verdadeira obsessão.

Eu precisava de saber o que havia lá em baixo.

«Rufus, sai daí», disse com firmeza.

Ele não se mexeu. Peguei um petisco na cozinha e joguei-o na sala.

Enquanto Rufus corria atrás dele, abri rapidamente a porta e empurrei-a.

O rangido das dobradiças da porta causou-me arrepios na espinha.

O porão cheirava a mofo, madeira húmida e ar viciado.

Uma única lâmpada iluminava a parte superior da escada, projetando longas sombras que desapareciam na escuridão abaixo.

Eu diminui o passo, mas então ouvi Rufus latir novamente atrás de mim.

Ele estava em pânico, as suas patas arranhavam o chão, como se tentasse impedir-me de descer.

«Fica aí, menino», gritei, com a voz trémula.

Desci lentamente as escadas, cada degrau rangia sob o meu peso.

O ar ficava mais frio a cada degrau que descia.

Ao chegar ao fim da escada, encontrei-me numa grande cave inacabada, com piso de betão e prateleiras ao longo das paredes.

A maioria das prateleiras estava ocupada por caixas empoeiradas, ferramentas velhas e latas de tinta.

À primeira vista, parecia tudo normal.

Mas então ouvi um som fraco e ritmado — algo batia.

O meu coração acelerou quando segui o som até ao canto mais distante do porão.

Lá, encontrei um velho armário de madeira com uma fechadura enferrujada.

O barulho vinha de dentro.

Eu parei.

A minha mente racional dizia-me que provavelmente era um rato ou outro animal pequeno preso no armário.

Mas outra parte de mim — aquela que tremia de medo — dizia-me para me virar e ir embora.

Em vez disso, estiquei-me em direção ao armário.

As minhas mãos tremiam enquanto eu arrombava a fechadura enferrujada e abria a porta.

Dentro havia uma pequena caixa amassada.

Parecia uma caixa de joias antiga, que poderia ser encontrada numa loja de antiguidades.

O barulho parou e um silêncio sinistro se instalou.

Hesite em abri-la, meio que esperando que algo saltasse para fora.

A caixa não estava trancada, então levantei a tampa.

Dentro havia uma coleção de objetos estranhos: uma fotografia amarelada de uma jovem mulher, um medalhão enegrecido e uma folha de papel dobrada.

A fotografia causou-me arrepios na espinha.

A mulher na foto tinha um rosto sinistrosamente familiar — quase como o meu, só que mais velho.

Com os dedos trêmulos, desdobrei o papel.

Era uma carta escrita com tinta que estava a desaparecer.

«Alex,

Você prometeu protegê-la.

Você jurou preservá-la.

Se estás a ler isto, significa que já falhaste.

Espero que consigas viver com as consequências.

—L»

Fiquei a olhar para o bilhete, com a minha mente a mil.

Quem era a mulher na foto?

Quem era «L»?

E por que me parecia que essa mensagem era dirigida a mim?

Antes que eu pudesse continuar a pensar, os latidos de Rufus ficaram mais altos.

Ele já estava no topo da escada e latia como nunca antes.

Esse som me deu arrepios.

De repente, a lâmpada acima de mim piscou e se apagou, deixando o porão na escuridão.

O pânico tomou conta de mim.

Agarrei a caixa e corri escada acima, quase tropeçando na minha agitação.

Rufus estava à minha espera lá em cima, com o corpo encostado à porta, como se quisesse proteger-me do que estava lá em baixo.

Fechei a porta e tranquei-a, com o peito a subir e descer pesadamente.

Rufus relaxou imediatamente, abanando o rabo e empurrando-me a perna.

Era como se ele estivesse a tentar acalmar-me, a dizer que eu tinha feito a coisa certa.

Quando Alex voltou para casa naquela noite, eu o interroguei.

«Alex, o que há no porão?», exigi, segurando a caixa.

O rosto dele empalideceu.

«Estiveste lá?», perguntou ele, com a voz tensa.

«Sim. E encontrei isto. Quem é ela, Alex?

Quem é a mulher da foto?»

Ele ficou em silêncio por algum tempo.

Então, ele suspirou e sentou-se, escondendo o rosto entre as mãos.

«Ela era a minha ex-noiva», disse ele finalmente.

«O nome dela era Laura.

Ela… ela morreu nesta casa.

Ela caiu da escada para a cave.

Foi um acidente, mas a família dela culpou-me.

Disseram que eu tinha sido descuidado.

Tentei seguir em frente, mas às vezes… sinto que ela ainda está aqui.»

Olhei para ele, o meu coração batia forte.

Um batimento ritmado. Um silêncio sinistro.

A maneira como Rufus tentou me segurar.

Agora tudo fazia sentido.

«Devias ter-me contado», disse baixinho.

«Não queria assustar-te», disse ele, com a voz trémula.

«Achei que, se ignorasse, isso desapareceria.»

Mas não desapareceu. E agora eu sabia a verdade.

Desde aquele dia, evitava a cave.

O Rufus parecia mais calmo depois daquele incidente, como se soubesse que eu tinha percebido tudo.

Mas, às vezes, tarde da noite, ainda ouço um barulho suave vindo de baixo.

E penso se a Laura ainda está à espera — de justiça, do fim, ou talvez apenas de que se lembrem dela.