Comprei a casa dos meus sonhos, mas a família do meu marido decidiu mudar-se para lá sem me perguntar.

Eu me esforcei ao máximo para poder comprar a casa dos meus sonhos, mas a família do meu marido invadia-a e agia como se fosse deles, sem sequer avisar. Mas eles esqueceram um facto importante: era eu quem pagava pela casa e não ia permitir que eles a controlassem.

Eu trabalhava sem parar. Turnos extras. Até tarde da noite. Quase sem dormir.

Cada centavo economizado me deixava um passo mais perto do meu objetivo: uma casa de verdade. Um lugar onde eu finalmente pudesse relaxar, onde meus filhos pudessem brincar no quintal, em vez de ficarem entalados na pequena sala de estar.

O Jack, o meu marido, também tinha o seu papel. Era esse o nosso acordo. Eu ganhava dinheiro e ele cuidava da casa — cozinhava, limpava, tomava conta das crianças.

Mas o Jack não fazia nada disso.

Na maioria das vezes, eu entrava em casa e encontrava a louça suja empilhada, brinquedos espalhados por toda parte e Jack grudado no sofá com o comando na mão. A sua verdadeira paixão? Videogames. Ele podia passar horas a elaborar estratégias para batalhas virtuais, mas não se dava ao trabalho de ligar a máquina de lavar louça.

«Querida, dá-me mais cinco minutos», murmurava ele, sem tirar os olhos do ecrã.

Cinco minutos transformavam-se em horas. Por isso, eu fazia tudo. Trabalhava sem parar. Limpei a casa. Contratei uma babá por conta própria, porque alguém tinha que cuidar das crianças.

Eu estava exausta, mas não parei. Eu tinha um sonho.

E então, finalmente, aconteceu. Comprei uma casa.

Não era uma propriedade enorme, mas era perfeita. Cozinha espaçosa, piso de madeira, quintal com um baloiço já instalado.

Quando segurei as chaves nas mãos, algo mudou dentro de mim. Não era apenas uma casa. Era a prova de cada sacrifício, cada noite sem dormir, cada grama de esforço.

Era minha.

Jack quase não reagiu.

«Que fofo», murmurou ele, olhando para o telemóvel. «O que tem para o jantar?»

Eu deveria ter percebido tudo. Mas estava feliz demais para me preocupar.

Na manhã em que celebramos a inauguração da casa, acordei com uma sensação de leveza. Pela primeira vez em muito tempo, o stress não estava a me afetar.

A casa cheirava a tinta fresca e velas com aroma de baunilha. Passei a manhã a preparar aperitivos, a colocar flores em vasos e a garantir que tudo estivesse perfeito.

Era um novo começo. Um começo fresco. Então, a campainha tocou.

Os pais do Jack. Sem convite.

A mãe dele, Diana, entrou primeiro, examinando a casa como se estivesse a inspecionar um apartamento.

«Finalmente», suspirou ela. «Demoraste muito tempo a mudar-te para uma casa normal. Este apartamento era simplesmente insuportável.»

Eu me forcei a sorrir educadamente. «Também estou feliz em vê-los.»

O pai dele, Harold, resmungou. «Nada mal.» Ele bateu na parede, como se estivesse a testar a resistência dela. «Espero que não tenha pago a mais.»

Jack permaneceu sentado no sofá, quase sem prestar atenção neles. Ele só intervinha quando era necessário.

Eu já estava prestes a oferecer bebidas quando Diana bateu palmas.

«Então», ela perguntou ao Harold, «levamos as coisas agora ou mais tarde?»

Eu pestanejei. «O quê?»

Ela olhou para mim como se eu estivesse a demorar. «As nossas malas. Devemos levá-las agora?»

Eu franzi a testa. «Por que você quer levar as malas?»

Harold deu uma risada sarcástica. «Oh, querido, não finja que você não sabia. O Jack não explicou? Na nossa família, quando o filho mais novo compra uma casa, os pais mudam-se. Sempre foi assim.»

Senti um aperto no estômago. «Desculpa?»

A Diana acenou com a mão, desdenhosamente. «É claro que vamos ficar com o quarto principal. Precisamos de espaço.»

«O quê?» A minha voz ficou presa na garganta.

Ela continuou, como se não tivesse destruído todo o meu mundo. «Vamos precisar de pintar. Esta cor é horrível. E o frigorífico não tem capacidade suficiente para todos nós.»

Virei-me para o Jack, esperando que ele pusesse um fim a isto. Mas ele não o fez.

Em vez disso, ele encolheu os ombros. «Sim, querida. É assim que as coisas são. Pare de reagir. É uma tradição.»

Tradição. Tradição?!

Eu queria virar a mesa de jantar para que as velas se partissem no chão. Mas não o fiz. Respirei fundo, forcei-me a sorrir e acenei com a cabeça.

«Oh», disse eu. «Claro.»

A Diana sorriu. «Vês? Eu disse que ela ia compreender.»

Olhei para o Jack. Ele nem prestou atenção. A mãe dele falou, então, na opinião dele, a discussão estava encerrada.

Mas não estava. Enquanto eles estavam ocupados se sentindo em casa, eu fazia os meus próprios planos. E eles não perceberam.

Naquela noite, eu estava deitada na cama, olhando para o teto.

Jack estava deitado ao meu lado, a ressonar como alguém que não tem nada com que se preocupar. Como se não fosse ele quem acabara de permitir que os seus pais invadissem a minha casa.

Como se eu não tivesse qualquer importância. Como se eu fosse apenas um salário ambulante.

Pensei em tudo o que tinha sacrificado. Noites longas. Turnos intermináveis. Momentos perdidos com os meus filhos, porque estava demasiado ocupado a garantir um futuro melhor.

Para quê?

Para o Jack ficar deitado no sofá à espera que eu preparasse a comida? Para a mãe dele me tratar como uma estranha na minha própria casa?

Não. Eu não ia deixar que eles levassem o que me pertencia. Eu tinha dado demasiado.

Virei a cabeça para o Jack. Ele dormia tranquilamente, sem suspeitar que tudo estava prestes a mudar.

Sorri. Amanhã eles vão descobrir tudo.

Ao amanhecer, saí da cama sem acordar o Jack e liguei.

«Olá, preciso de trocar as fechaduras», disse ao serralheiro. «Hoje.»

«Claro. Qual é a morada?»

Dei-lhe todos os detalhes. Depois, fiz a próxima chamada.

«Bom dia, aqui é o escritório de advocacia Carter & Lane. Em que podemos ajudar?»

«Olá, quero pedir o divórcio.»

Ao meio-dia, o serralheiro terminou o trabalho. A minha casa voltou a ser verdadeiramente minha.

O Jack ainda dormia enquanto eu arrumava as coisas dele. Ele só se mexeu quando comecei a arrastar a sua cadeira de jogos para a garagem.

«O que está a fazer?», murmurou ele, esfregando os olhos.

«A arrumar as coisas», respondi, jogando uma caixa com controladores emaranhados na pilha.

«Para quê?»

Ignorei-o e continuei a trabalhar.

Ele bocejou, espreguiçando-se preguiçosamente. «A mãe ligou? Ela disse que eles viriam hoje com as suas coisas.»

Sorri. «Oh, eu sei.»

O Jack nem sequer reparou no meu tom de voz. Apenas resmungou e foi para a casa de banho.

Quando saí para o evento escolar, a casa estava tranquila. Pacífica.

Eu estava sentado no salão de festas, ouvindo distraidamente o diretor falar sobre o espírito escolar, quando o meu telemóvel vibrou lamentavelmente no meu bolso. Olhei para o ecrã e sorri.

IN-LAUS.

Saí, sentei-me num banco e atendi com a minha voz mais agradável. «Estou?»

«O QUE É QUE FIZESTE?!» gritou Diana.

Afastei o telefone do ouvido, continuando a sorrir. «Desculpa, o que foi isso?»

«Tu trancaste-nos!» — gritou ela. «Não conseguimos entrar! Temos as nossas malas! Onde está o Jack?!»

Em seguida, ouvi a voz do Jack, áspera e zangada. «Emily, abre essa maldita porta!»

Recostei-me, cruzando uma perna sobre a outra. «Oh, Jack. Não pensaste bem nisto, pois não?»

Silêncio.

Então, o Harold sibilou: «Sua pequena ingrata…»

«Ah, ah, ah», interrompi. «Deixem-me esclarecer uma coisa.»

Respirei fundo, saboreando o momento.

«Esta casa é minha. Fui eu que a paguei. Não foi o Jack. Não foste tu. Fui eu. E estou farta de ser tratada como uma conta bancária sem fundo.»

A voz do Jack mudou, agora mais suave. «Emily, vamos. Vamos discutir tudo.»

«Oh, nós vamos conversar», disse eu. «No tribunal.»

Diana suspirou. «No tribunal?! Vais divorciar-te dele por causa disso?!»

Eu ri. «Não, Diana. Estou a divorciar-me dele porque me recuso a ser a única a fazer esforços, enquanto ele não faz nada. Estou cansada de ser tratada como se devesse algo a todos vocês.»

Jack fez uma última tentativa. «Emily, por favor. Podemos consertar tudo.»

Eu sorri. «Jack, as suas coisas estão na garagem. Fique à vontade para pegá-las. Mas você não vai voltar para casa como meu marido.»

Diana estava a enlouquecer. «Não podes fazer isso! És a mulher dele!»

«Não por muito tempo», disse eu e terminei a conversa.

Naquela noite, deitei-me na cama, na minha casa, e ninguém exigia nada de mim. Nem o meu marido preguiçoso. Nem a minha sogra, que se comportava como se fosse a dona da casa.

Apenas silêncio. Apenas paz. Respirei fundo, sentindo-me mais leve do que nos últimos anos.

Pela primeira vez em muito tempo, eu não era a esposa de ninguém.

Eu era apenas eu mesma. E eu era livre.