O meu marido saiu no dia do meu aniversário, dizendo que precisava de ir trabalhar — decidi segui-lo.

O meu 35.º aniversário começou como um conto de fadas — uma festa maravilhosa com a família, amigos e o meu marido, Sergei, que organizou todo o evento. Os balões balançavam ao vento, as crianças riam enquanto brincavam à beira do lago e o cheiro de hambúrgueres grelhados enchia o ar. Era um daqueles raros momentos que pareciam perfeitos. Ou pelo menos era o que eu achava.

Sergei sempre foi o meu porto seguro nos nossos 12 anos de casamento. Ele trabalhava como analista financeiro e costumava brincar que era «casado com tabelas», enquanto eu conciliava o trabalho freelance de design com os cuidados dos nossos dois filhos, Masha e Arina. Éramos uma equipa. Ou, pelo menos, era o que eu pensava. Mas aquele dia ensolarado destruiu tudo.

Eu admirava o alto bolo de chocolate que a Masha ajudava a decorar e pedi ao Sergei para me passar uma faca. Ele não respondeu, absorto no telemóvel.

— Sergei? — repeti em voz mais alta.

— Hã? Oh, desculpe, já vou buscar — respondeu ele, guardando o telemóvel no bolso com um sorriso que não chegava aos olhos. Algo estava errado, mas decidi que provavelmente era devido ao stress ou ao trabalho.

Alguns minutos depois, Sergei afastou-se completamente do grupo. A curiosidade falou mais alto e eu fui atrás dele, tentando manter distância. Então ouvi-o falar ao telefone com uma voz baixa e tensa.

— Agora não posso. Não percebes? É o aniversário dela. Porque estás zangado? Está bem, estarei aí em 20 minutos. No nosso lugar habitual.

— Agora não posso. Não percebes? É o aniversário dela. Porque estás zangado? Está bem, estarei aí daqui a 20 minutos. No nosso lugar habitual.

As suas palavras atingiram-me como um raio num céu claro. «Lugar habitual»? Com quem está ele a falar? Alguns minutos depois, ele voltou para os convidados, com um sorriso forçado no rosto. E então, como se nada tivesse acontecido, anunciou:

— Tenho um assunto urgente a tratar no trabalho. Preciso ir.

— Trabalho? A sério? No meu aniversário? — as palavras estavam na ponta da língua, mas eu me contive. Em vez disso, observei-o entrar no carro e tomei uma decisão: iria atrás dele.

O carro do Sergei era fácil de reconhecer. Mantive-me à distância, apertando o volante com força até os meus dedos ficarem brancos. Ele dirigiu-se para a cidade, mas o escritório ficava do lado oposto. O meu coração batia loucamente quando ele virou para ruas tranquilas com prédios altos.

Finalmente, ele parou — em frente à nossa casa. Eu estava completamente confusa. Por que ele voltou para casa? Estacionei no final da rua e fiquei à espera, mas ele não saiu. Algo estava claramente errado.

Entrei silenciosamente em casa, com o coração a bater forte no peito. Da sala de estar vinham risos abafados, cliques rápidos e sons de videojogos. Espreitando pela esquina, vi o Sergei no sofá com os auscultadores na cabeça, completamente absorto no ecrã luminoso.

Ele não estava a resolver questões urgentes de trabalho. Estava a jogar videojogos.

A primeira sensação de alívio — de que tudo não era tão mau quanto eu temia — rapidamente deu lugar à raiva. Ele mentiu para mim, saiu do meu aniversário e se escondeu para jogar. Mas quando eu já estava pronta para lançar-lhe acusações, tive uma ideia.

Liguei para a nossa vizinha, Elena — bonita, sociável, sempre pronta a ajudar.

— Lena — comecei com um tom preocupado — parece que me esqueci de trancar a nossa porta ao sair para a festa. Podes verificar?

Cinco minutos depois, Lena entrou na casa. Fiquei na sombra, e a minha raiva só aumentava enquanto observava a conversa deles.

— Sergei? — a voz suave dela ecoou pela sala. Sergei imediatamente tirou os fones de ouvido e sorriu calorosamente.

— Olá, chegaste — disse ele, com uma estranha ternura no tom de voz.

No início, a conversa deles parecia normal, mas logo assumiu um tom que me partiu o coração. Sergei inclinou-se para ela, chamou-a de «querida» e beijou-a. Não foi um beijo amigável, mas sim um beijo verdadeiro e íntimo.

O meu coração se partiu. Não era apenas um videogame. Era uma traição.

Com as mãos trêmulas, tirei algumas fotos com o telemóvel e saí do meu esconderijo. Os meus passos os fizeram se afastar um do outro, seus rostos congelaram em choque e pânico.

— Então, estão confortáveis? — perguntei friamente, cruzando os braços sobre o peito.

— Anya… espera, eu explico tudo — murmurou Sergei, dando um passo em minha direção.

— Podes explicar? — Mostrei-lhe as fotos no telemóvel. — O que exatamente vais explicar, Sergei? A parte em que deixaste de ir à minha festa de aniversário para te encontrares às escondidas com a nossa vizinha, ou a parte em que me chamaste de «esposa estúpida»?

— Anya, tu não entendeste nada! — ele gritou, com desespero na voz. — Não é o que tu pensas!

— Sério? Porque parece que você está me traindo com a Lena — virei-me para a vizinha, acrescentando sarcasticamente: — E você, Lena, está simplesmente ótima. A vizinha do ano, sem dúvida.

— Anya, eu… eu não queria… — começou Lena, gaguejando.

— Ah, é mesmo? Não me importo. Fica com ele — cuspi. — Podem brincar as vossas brincadeiras o quanto quiserem. Para mim, acabou.

— Espera! Não faças isso! — implorou Sergei, com o rosto branco como giz.

Levantei a mão, impedindo-o.

— Vamos nos divorciar, Sergei. E acredite, você vai se arrepender disso.

Sem dizer mais nada, saí de casa com o coração pesado, mas com uma determinação firme. Naquele dia, percebi a força que era preciso ter para ir embora e que eu merecia muito mais do que Sergei jamais poderia me dar.