Anos depois de terminar a escola, os meus agressores tentaram humilhar-me no trabalho, mas não esperavam um karma instantâneo.

Já passou por momentos em que o passado volta à sua vida sem ser convidado? Num minuto estou a limpar as mesas do restaurante que considero a minha casa e, no minuto seguinte, estou a olhar nos olhos da rapariga que transformou os meus anos de escola num pesadelo.

Então, imagine: estou a limpar as mesas do restaurante onde trabalho, simplesmente fazendo o meu trabalho. É um lugar pequeno e aconchegante, onde o cheiro de café acabado de fazer te recebe antes mesmo de você cruzar a porta.

Os frequentadores vêm aqui com tanta frequência que sabem o seu nome, a sua bebida favorita e, talvez, a história da sua vida, se ficarem aqui tempo suficiente.

Hoje estou a ajudar na limpeza porque a Beth, uma das nossas empregadas, não se sente bem. Ela está grávida — radiante e bonita —, mas desmaiou há pouco, então os outros assumiram o seu trabalho. Somos uma equipa unida, como uma família. Quando alguém precisa de ajuda, nem pensamos duas vezes.

Estou a limpar uma das mesas dos fundos, concentrada no ritmo, quando o ouço. Risos. Não apenas risos, mas aqueles que nos levam de volta à escola. O meu estômago aperta e, antes mesmo de levantar os olhos, já sei quem é.

É a Heather.

Heather Parker, a rainha das abelhas, governante da hierarquia social da escola e minha algoz há quatro anos consecutivos. Lá está ela, entrando no restaurante como se fosse a dona do lugar, o seu riso característico ecoando pelo salão, acompanhada pela sua fiel equipe: Hannah e Melissa.

Como se nada tivesse mudado. Eles zombavam de mim por tudo — pelas roupas, pelo penteado, até mesmo por falar dos meus sonhos de um dia sair daquela cidade.

Fico paralisada, ainda segurando o tecido na mão, e fico parada como um veado diante dos faróis de um carro. Eles ainda não me viram, mas já sinto a familiar sensação de queimação no pescoço. Sussurros, risos, olhares que podem destruir-te sem dizer uma única palavra.

«Ei, não é…?» A voz de Heather é interrompida, os seus olhos vasculham a sala.

Por favor, por favor, não olhe para este lado.

Claro que ela olha.

Os olhos dela encontram os meus, e um sorriso malicioso se espalha pelo rosto dela. O mesmo sorriso que ela usava sempre que estragava o meu dia.

«Ora, ora, ora. Olha quem está aqui. Ainda a limpar as mesas, não é? Parece que é tudo o que és capaz de fazer.» A voz dela é alta, atravessando o barulho normal do restaurante.

Ela ri, um som tão falso, mas os amigos dela absorvem-no como se fosse a melhor coisa que já ouviram.

Sinto o meu rosto a aquecer, mas continuo a limpar a mesa, tentando não prestar atenção a eles. Não importa. Já não sou a mesma pessoa que era na escola.

No entanto, a Heather não desiste. «Era isso que sonhavas na escola? Limpar a porcaria de pessoas que realmente fizeram algo na vida?» Ela olha para mim como se eu fosse apenas lixo que pode ser jogado fora. As amigas dela riem, cutucando umas às outras, como se fosse a melhor diversão da semana.

Então ela estala os dedos, como se eu fosse um cão. «Ei, empregada! Acha que consegue pelo menos trazer-nos água? Ou isso é muito difícil para si?»

O meu coração bate forte e sinto a raiva a subir. Mas antes que eu consiga abrir a boca, ouço passos atrás de mim.

Jack, o subchefe, aparece da cozinha, com os braços cruzados e os olhos semicerrados. «Ei, não se atreva a falar assim com ela», diz ele, com uma voz calma, mas com um tom que me deixa nervoso. Ele fica ao meu lado, como uma parede de músculos, e de repente não me sinto tão sozinho.

Atrás dele, Maria, a nossa chefe de cozinha, limpa as mãos no avental e junta-se a nós. O seu rosto está severo e o seu olhar diz que ela está pronta para brigar. «Se têm problemas, podem levá-los para outro lugar», acrescenta ela. «Aqui não toleramos desrespeito.»

Heather revira os olhos, mas há algo em seu olhar, talvez surpresa. No entanto, ela zomba, jogando o cabelo para trás do ombro. «Qual é. Nós apenas somos honestos. Não é triste? Quem é que limpa as mesas hoje em dia? Ela chegou ao fundo do poço e tu estás a defendê-la?»

Jack nem sequer se abalou. «Ela trabalha mais num dia do que tu em toda a tua vida.» Ele dá um passo à frente, a sua voz é baixa, mas firme. «Então, querem água ou já chega de vergonha?»

Um por um, os restantes membros da equipa começam a reunir-se à minha volta, o seu apoio silencioso envolve-me como uma armadura. Sara, a nossa empregada de bar, avança e limpa as mãos num pano, ao lado de Jack e Maria. O seu olhar fixa-se em Heather, inabalável.

«Não toleramos esse tipo de comportamento aqui», diz Sara, com voz calma, mas firme. «Se não consegue se comportar de forma respeitosa, pode cuidar dos seus assuntos em outro lugar.»

Heather revira os olhos e solta um suspiro alto e exagerado. « Oh, por favor.» Ela acena com a mão de forma desdenhosa, como se estivesse cansada de toda a situação. «Vamos apenas falar com o seu gerente», sorri ela, confiante de que está prestes a começar a brincar com o poder. O seu séquito acena com a cabeça, os seus rostos presunçosos, como se estivessem prestes a assistir ao meu colapso.

E então decidi que já bastava.

Dou um passo à frente, sentindo o peso do momento pairar sobre mim, mas em vez de medo, surge outra coisa — algo mais forte. Limpo as mãos na toalha que está sobre o ombro e encaro Heather.

«Já», digo com voz calma.

O sorriso de Heather vacila por um segundo, os seus olhos estreitam-se, como se ela estivesse a tentar compreender. «O quê?», pergunta ela, piscando os olhos, como se não tivesse ouvido bem.

«Eu sou o gerente aqui», digo, deixando as palavras serem absorvidas, observando a sua confiança desmoronar. «Na verdade, sou o dono deste lugar.»

Os seus olhos arregalam-se e parece que o ar é sugado para fora da sala. O sorriso que ela mantinha até então desaparece, dando lugar a algo quase parecido com pânico. Pela primeira vez, Heather não consegue encontrar as palavras certas.

O silêncio após as minhas palavras torna-se denso, quase sufocante. Por uma fração de segundo, ninguém se move. E então — bum, e a sala explode. A minha equipa comemora, aplaude e grita como se tivesse acabado de ganhar na lotaria.

Jack dá-me uma palmada nas costas, Maria grita vitoriosamente e Sara grita como se tivesse acabado de ver o seu time favorito marcar o gol da vitória. O barulho enche cada canto do restaurante, abafando todas as tentativas fracas de Heather de manter a compostura.

O rosto de Heather fica vermelho e cora de vergonha. Ela fica com a boca entreaberta, procurando algo para se agarrar, mas não encontra nada. O seu sorriso presunçoso desapareceu completamente. Ela ficou sem truques.

Jack dá um passo à frente, sorrindo de orelha a orelha. «Estás perante a melhor chefe que já tivemos», diz ele, abraçando-me pelos ombros. «Ela está aqui a limpar as mesas porque se preocupa connosco. Ela poderia deixar a Beth na incerteza, mas não é assim.»

Heather pisca, gaguejando em busca de uma resposta, mas antes que ela consiga dizer uma palavra, Sarah entra na sala. As suas mãos estão cruzadas e a sua voz é dura e inflexível. «Talvez seja hora de ir embora?», diz ela, estreitando os olhos para Heather. «Não precisamos de pessoas com comportamentos repugnantes que estraguem o nosso dia.»

Agora, a bravata de Heather desapareceu completamente. Ela olha à sua volta: os seus amigos ficaram subitamente calados, já não riem nem a apoiam. «Eu… eu não queria dizer nada disso», murmura ela, mas a luta já lhe saiu do corpo. Ela sabe que está tudo acabado.

Aproximo-me, mas não para a repreender, e sim para acabar com isso. «Heather, está tudo bem. A sério. Mas da próxima vez, pense antes de falar.» A minha voz é calma, sem rancor. Apenas a verdade.

Ela olha para mim, os olhos arregalados de choque e descrença. Parece que, pela primeira vez na vida, Heather Parker não tem nada a dizer.

Com essas palavras, elas pegam as suas coisas e, sem dizer mais nada, saem correndo pela porta. A campainha toca quando elas saem, e o ar fica mais leve, como se um peso que eu nem suspeitava tivesse sido tirado de mim.

A sala está em polvorosa, e não consigo conter o sorriso que se espalha pelo meu rosto. Jack pisca para mim, e Sarah sorri. «Isso foi incrível», diz ela, balançando a cabeça. «Isso é o que se chama de karma instantâneo».

Eu dou uma risadinha, sentindo um orgulho crescente dentro de mim. Há muitos anos, eu teria feito de tudo para fugir de pessoas como Heather. Mas agora? Agora estou aqui, rodeado de pessoas que me respeitam pelo que sou, num lugar que me pertence.

«Karma», digo, rindo baixinho, «servido com um toque de justiça».